Faz
tempo que a humanidade se queixa das varizes.
O primeiro registro que se conhece delas está estampado numa estátua de mármore
feita quatro séculos antes de Cristo e encontrada em escavações nas
proximidades de Atenas, dentro de um santuário construído em homenagem ao herói
Amynos. A imagem, hoje guardada no Museu Nacional de Arqueologia da Grécia,
retrata um homem segurando uma perna com veias dilatadas e tortuosas. A peça
representa o agradecimento de um paciente após um tratamento bem-sucedido.
Passados
mais de dois milênios desde que a obra foi esculpida, as varizes continuam
incomodando muita gente — e quem mais se queixa hoje são as mulheres.
Estatísticas da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia
Vascular (SBACV) indicam que 38% dos adultos convivem com ela.
No
público feminino, o número é ainda maior: 45% apresentam a condição. Entre as
pessoas com 70 anos, 70% têm algum grau do quadro conhecido por insuficiência
venosa crônica.
Mas
por que as varizes são tão corriqueiras? A culpa é da própria evolução da nossa
espécie. Quando o ser humano passou a adotar a postura ereta e a andar apenas
com os pés, ficou bem mais difícil levar o sangue das pernas de volta ao coração — imagine o esforço que é
vencer a gravidade e fazer o líquido vermelho subir ao peito! Com o tempo, as
veias ficam debilitadas e deixam de cumprir seu papel.
Mas
engana-se quem pensa que o alargamento desses tubos nos membros inferiores seja
apenas um impedimento para vestir short, maiô ou biquíni. Diversos estudos
demonstram que o fenômeno está por trás de repercussões mais sérias à saúde.
Uma
pesquisa do Hospital Memorial Chang Gung, em Taiwan, por exemplo, acaba de
confirmar que as varizes aumentam em cinco vezes o risco de trombose venosa, a formação de um coágulo nos vasos
sanguíneos profundos.
O
trabalho, publicado no prestigiado periódico científico The Journal of American Medical Association,
analisou os registros de 425 mil cidadãos da ilha asiática. Metade do grupo
penava com as varizes, enquanto a outra parcela vivia livre delas. A
investigação revela que ter o quadro dobra a probabilidade de um indivíduo sofrer uma grave
embolia — quando um trombo sanguíneo se solta da periferia do
corpo e vai parar lá nos pulmões, por exemplo.
Por
mais que esse elo já estivesse estabelecido pela ciência, ele não havia sido
confirmado por um levantamento com números tão expressivos. A boa notícia é que
os episódios de tromboembolismo pulmonar provocados pelas varizes não acontecem
com tanta frequência.
Por
outro lado, existem outras complicações mais comuns, como a inflamação dessas
veias e o aparecimento de úlceras na pele, que são dolorosas e de difícil
cicatrização. Ainda bem que dá pra intervir muito antes de a situação ficar
desse jeito.
Quem precisa ficar atento às
varizes
O
primeiro passo para driblar essa série de enrascadas — e, claro, botar a roupa
de banho sem neura — é ficar de olho nas pernas, principalmente a partir dos 30
anos de idade. Geralmente, as varizes se manifestam por meio de manchas verdes
ou roxas, que se expandem aos poucos. Outras pistas frequentes são o inchaço e
a sensação de peso nos pés ao final do dia.
A
doença começa muito antes dos sintomas, então é importante procurar um
profissional o mais cedo possível.
A
atenção deve ser redobrada se você tem um parente próximo com o problema — a
genética influencia bastante por aqui. Outros fatores bem conhecidos são
o envelhecimento, o
ganho de peso, o sedentarismo, o uso de terapias hormonais e duas ou mais gestações.
Recentemente,
um estudo da Universidade Stanford, nos Estados Unidos,
acrescentou outro componente à lista, a altura. Numa análise genética de 413
mil voluntários, eles descobriram que, quanto mais alta a pessoa, mais
costumeiras são as varizes.
Além
de o caminho para bombear o sangue de volta ao coração ser mais longo, parece
que há algo no DNA que relaciona o tamanho corporal com o desenvolvimento
inadequado das veias.
De
acordo com os médicos ouvidos, as mulheres, mais sujeitas à intempérie,
costumam marcar consultas com maior frequência e rapidez. Os homens, na contramão, deixam a coisa se
arrastar por anos — por descuido ou por não reparar nos vasos irregulares em
meio aos pelos das pernas.
E
olha que a detecção do problema não tem nada do outro mundo: o especialista faz
o diagnóstico no próprio consultório. Ele ainda pode requisitar alguns exames complementares, como o ultrassom e o eco-doppler colorido,
para determinar a gravidade e selecionar o melhor tipo de tratamento.
(Fonte: M de Mulher)
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