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quinta-feira, 3 de julho de 2014

ARTIGO - O VINHO PERDE O GLAMOUR COM A ROSCA?


Outro dia fui jantar num restaurante badalado na Vila Madalena (SP), aceitei o couvert e pedi a carta de vinhos. Ao longo de uma lista com uns 15 rótulos diferentes, e confesso que não conhecia mais que 2, pedi um Carmen Classic Carmenère 2008 (Viña Carmen). Vinho chileno que se você procurar as características no Google vai encontrar: “elaborado com a mais emblemática casta chilena, a Carmenere, originária de Bordeaux, parcialmente barricado, para manter toda a exuberância da fruta. O bouquet é bastante complexo e cativante...” (simples palavras juntas em uma frase que não explica muita coisa...). Para mim é um vinho para happy hour, suave e com presença, que combina muito com pão e azeite ou patê de queijo suave. Não acho que deva ser tomado frio, apenas abra a garrafa e deixe-o respirar um pouco para os aromas aflorarem! (Bonito não?)

Bom, como eu já havia tomado este vinho relaxei e continuei num papo animado. O couvert veio e o garçom trouxe o vinho. Fez toda aquela reverência típica como se tivesse trazendo pedras preciosas; mostrou o rótulo, segurou como um bebê e envolveu o gargalo da garrafa com um guardanapo branco... Em um segundo, sem fazer caretas ou esforço abriu o vinho. Ele era DE ROSCA!!!!! Como assim??? Olhei para minha amiga, as duas boquiabertas e pensando: ”Rosca???”... E agora? Devolvemos ou tomamos??

Fui investigar e descobri que hoje em dia não é incomum você encontrar o vinho que está acostumado a beber, também na versão de rosca. Encontrei o seguinte...

A cortiça é a casca de uma árvore chamada Sobreiro. Esta árvore cresce em Portugal, na Espanha e no norte da África, mais 50 % da produção mundial concentra-se em Portugal. Muito bem. Os rapazes que trabalham neste serviço de retirar a casca da árvore e transformá-la em rolha estão querendo trabalhar em outro ofício e hoje, em Portugal (maior produtor mundial) já está havendo falta desta mão de obra!!! Essa é uma das explicações.

Outra explicação é que a rolha de cortiça natural permite ao vinho "viver" e maturar dentro da garrafa, pois há entrada de ar. Mas, esta entrada de ar é boa até certo ponto. O ideal e para a conservação melhor do vinho dentro da garrafa é que não haja esta troca de ar. E isso a rosca faz. Ela consegue vedar a garrafa 99%. Juntando os trabalhadores portugueses e as roscas... Não será incomum a rosca entrar na sua vida e nem a característica do seu vinho mudará, se você tomá-lo com rolha ou rosca. Mas, atenção, se você procura um vinho com um custo acima de R$ 100,00, com certeza a rolha estará presente. Ela ainda não foi trocada!

Acho que o que mais perdemos neste jogo de rolha e rosca é a falta de glamour em abrir uma garrafa de vinho com rosca e aqueles milhares de apetrechos específicos de vinhos perdem a função e a necessidade. Até para o dia-a-dia esse glamour é necessário. É como chegar em casa às 19 h, tirar os sapatos, colocar duas pedras de gelo e uma dose de whisky em um copo de plástico. O gosto muda. O happy hour muda.

Bom, tomamos duas garrafas de vinho naquela noite, à conversa continuou animada e ao longo da noite deixamos de olhar torto para a rosca e o vinho marcou sua presença!
    
Carmen Classic Carmenère 2008 – vinho que mostra taninos suaves e macios, com aroma de geleia de frutas vermelhas, notas de menta e especiarias e harmoniza bem com carnes vermelhas. No mercado de SP o preço varia de R$ 40,00 a R$ 55,00.

Daniela Meira 
Autora do blog Informações à Mesa 

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