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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

EDUCAÇÃO - LETRAMENTO PRECOCE PODE SER PREJUDICIAL


O letramento precoce é um assunto permeado por controvérsias. Enquanto algumas instituições de ensino apostam em atividades ligadas à leitura e à escrita, outras defendem a ideia de que é preciso preparar a criança antes de abordar esse tipo de assunto.

Introduzida pelo filósofo e educador austríaco Rudolf Steiner (1861-1925) em 1919, a pedagogia Waldorf defende que os pequenos (com até 7 anos de idade) tenham apenas uma responsabilidade na escola: brincar. Ao participar de jogos e atividades lúdicas, meninos e meninas desenvolvem diversas habilidades, entre físicas e motoras, além de um estímulo essencial para a vida: a confiança. Segundo a teoria, nessa fase o aluno tende a gastar muita energia e se prepara fisicamente - isso é fundamental para o seu desenvolvimento neurológico e sensorial. Tais capacidades refletem em domínio corporal, linguagem oral e, principalmente, contribuem para a inteligência da criança.

Em poucas palavras: na educação infantil, aprimorar essas características é mais importante do que aprender a ler o próprio nome.

Os ideais disseminados pelo croata têm ligação direta com estudos elaborados por outro profissional de renome na área, o psicólogo bielorrusso Lev Vygotsky (1896-1934). Ele dizia que a alfabetização é resultado de um processo longo e repleto de etapas, como gestos e expressões. Ao fazer um símbolo no ar, por exemplo, a criança já se manifesta a partir de uma linguagem mais próxima da escrita. Esse aprendizado gradual é imprescindível e deve acontecer nas classes de primeira infância, sem que atividades mecânicas de leitura e escrita atrapalhem ou forcem as etapas de desenvolvimento.

Estimular a leitura precoce, por sua vez, compromete tal formação. Além disso, pode ocasionar problemas como sobrecarga, deficiências na coordenação motora, apatia, desinteresse, desmotivação e estresse.


ANA
Essa discussão ganhou fôlego principalmente depois da implantação da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), criada pelo Ministério da Educação (MEC) em 2013. Direcionada a estudantes do 3º ano do ensino fundamental de escolas públicas, a prova avalia os índices de alfabetização e letramento em língua portuguesa e matemática. O objetivo é verificar se as crianças são preparadas corretamente para uma nova fase da vida estudantil. No entanto, uma questão defendida por muitos profissionais da área é que a aplicação de uma prova desse porte pode não ser tão benéfica quanto parece e ter reflexos já nas classes de educação infantil.

A ANA tende a fortalecer uma visão que já existe nas unidades escolares - a de que, na primeira infância, é preciso preparar os estudantes para a etapa seguinte, o ensino fundamental. Fazer isso significa antecipar iniciativas relacionadas a processos de alfabetização e letramento, ou seja, o educador pula etapas importantes e passa a concentrar suas energias em algo que ainda não precisaria ser abordado.

Testes como a ANA deveriam acontecer apenas a partir do final do ensino fundamental. O formato também poderia ser diferente. O interessante é que o método avalie as políticas públicas em geral e não a escola.

Pais podem contribuir
Ao mesmo tempo em que a instituição exerce um papel importante, os pais também devem redobrar o cuidado com o letramento precoce. A pressão pode começar a ocorrer dentro de casa, quando os familiares incentivam a criança a ler palavras ou a escrever nomes aleatórios. É fundamental que todos se atentem a isso. No lar, bem como na escola, as atividades devem ser adequadas para a faixa etária.
(Fonte: Revista Educação)

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